“CADETE, IDES COMANDAR, APRENDEI A OBEDECER”.
Por Iberê Mariano da Silva.
Ao ser declarado Aspirante fui designado para servir na Divisão Blindada Comandada pelo Gen Ramiro Tavares Gonçalves e seu Chefe de Estado Maior, o Cel Hugo de Sá Campelo Filho.
Meu primeiro Comandante de Unidade foi o Cel Roberto Moura, que Comandava o Batalhão de Manutenção da Divisão Blindada.
Em 1968, nós, os sete Aspirantes e todos Oficiais do Batalhão, passávamos o tempo todo em prontidão, devido a situação confusa, que se encontrava o país.
Lotado, na 2^ Companhia, a qual era Comandada pelo Capitão Caminha, formei uma equipe de ação rápida para qualquer eventualidade.
Todos Praças tinham funções específicas.
Uns pegavam munições e armamento, outros pegavam máscaras contra gases, mantas, ração de combate, cordas e etc.
Outros ligavam as viaturas já abastecidas.
Um belo dia, o Coronel, do alto de uma varanda interna, me chama e Comanda:” Iberê sai”.
Acelerada, a equipe se aprontou e em 5 minutos, com o Cabo Irani dirigindo o Socorrão Ward De La France ( Ipiranga ), passamos pelo Coronel.
Perguntei-lhe qual o destino.
Deixando o segundo Socorrão, o Tererê, dirigido pelo Sgt Ronas, de prontidão, nos dirigimos para o Batalhão de Guardas em São Cristóvão.
Quando lá chegamos e ia parando, um Oficial grita para dentro do quartel: “Eles chegaram”.
Ato contínuo, sai um Jeep armado até os dentes e sete caminhões choque, seis deles com 48 combatentes cada e um vazio para emergências, que me transmitiu a ordem: “Nos Siga”.
Como se isso fosse possível!
O BG contava com caminhões 1965, e eu com um Socorrão de umas 15 toneladas, 1944 construído para o desembarque na Normandia na 2ªGM.
Enquanto eles passaram zunindo pelo viaduto das Forças Armadas, eu fui ficando para trás.
No sinal em frente ao edifício “Balança, Mas Não Cai”, eu não os enxergava mais.
Embora com as tremendas sirene e buzina acionadas o sinal ficou vermelho e o Cabo Irani me avisa que estávamos quase sem freio.
O reservatório de ar não havia enchido completamente.
Conseguimos parar no sinal, mas a uma camada de tinta de cada um dos carros nos lados.
O policial de trânsito ficou totalmente enrolado,
Não sabia, pois ninguém havia me comunicado, o destino final.
Fui seguindo a confusão no trânsito e a altura do gás lacrimogêneo.
Meus Soldados, que já tinham municiado as INAs, colocaram as máscaras contra gases.
Cheguei ao Largo da Carioca, aonde o BG já tinha dominado a situação.
O Comandante da missão, que lacrimejava sem parar, pois o BG não havia levado máscaras, me falou que eu tinha que evacuar duas viaturas danificadas por manifestantes baderneiros.
Tratavam-se de uma Rural Willys, que fora incendiada, e um caminhão FNM do Estabelecimento Central de Transporte.
Eu falei para ele o famoso: “deixa comigo”.
Icei o FNM e amarrei a Rural toda incendiada no para-choque traseiro do FNM.
Reboquei, assim, o trenzinho pela contramão, na época, da Rua Uruguaiana, Avenida Presidente Vargas até a Frente do Quartel General do I Exército. (situado no PDC, Palácio Duque de Caxias).
Olhando o PDC, tive um pensamento, que se aquele prédio fosse uma embarcação, ele emborcaria, tamanha a quantidade de pessoas em todas as janelas.
Lá, já havia uma equipe de manutenção do ECT, que rapidamente consertou o FNM.
Tinha sido, apenas um pedaço de bueiro quebrado, que lançado contra o possante caminhão, cortara a tubulação de combustível.
Já a Rural!…
Já a Rural, recebi ordem de levá-la para o interior do PDC, mas sem tocar no chão, pois ela arranhava o mesmo quando arrastada.
Icei a mesma com a lança e adentrei no PDC.
Aí começou a célebre “ordem e contra ordem”.
Colocada a Rural em um lugar, apareceu um Praça, que apontando para um andar, o qual tinha uma pessoa que me acenava, me disse que o General Fulano de Tal me mandava colocar a viatura em outro local.
Mudado de local, aparecia outro Praça e o fato se repetia, apontando para aceno de outro andar.
Mudado de local, novamente o fato se repetia.
Outro Praça apareceu mandando que a Rural ficasse içada pela lança para não danificar o piso do pátio.
Cumprida a ordem, apareceu outro que mandava que não ficasse içada, pois poderia envergar a lança (Aliás a lança era capaz de içar mais de 12 toneladas ).
E assim, fiquei a tarde toda satisfazendo egos.
Meus comandados já apostavam de qual andar viria a próxima ordem.
Avisei, o meu Comandante, sobre o êxito da missão.
Fiquei retido até às 4:00 h do dia seguinte, pois poderia haver novo evento.
Valeu levar cobertores e ração de combate.
Às 4:00 h, icei a Rural, amarrei de tal forma que não balançasse e rapidamente saí do PDC, em direção ao meu quartel.
Isto tudo, seguindo a ordem do meu último acenador.
No percurso, aproveitei para fazer uma análise retrospectiva e refletir sobre a missão cumprida.
Em devaneio, recordei, que a AMAN tem um pátio de formatura geral, o PTM ( Pátio Tenente Moura ), que homenageia um Tenente muito amado, falecido em instrução).
Foi, então, que, aquilatei quão sábia e profunda é o dístico que no alto nos ostenta: “CADETE, IDES COMANDAR, APRENDEI A OBEDECER”.
Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – AMAN – CPEAEX — Turma 1967 – Material Bélico