Minha passagem por Manaus
Por Iberê Mariano da Silva
A Transferência do CMA
O Comando Militar da Amazônia (CMA) foi criado em 17 de outubro de 1956 na cidade de Belém.
Em 1969, acumulando a recém-criada 12ª Região Militar, o CMA teve sua sede transferida para Manaus.
Para isto, foi dada a missão ao maior entusiasmado com ela, que era o Gen Ex Rodrigo Otávio.
Ele logo pôs mãos a obras.
Inúmeros aquartelamentos começaram a ser construídos numa estrada erma, na época, que se dirigia para a praia de Ponta Negra.
Não só Quartéis foram arquitetados, mas toda uma infraestrutura, tais como, terraplanagem, arborização, redes de água, esgoto e elétrica, hotéis de trânsito, PNRs ( Próprio Nacional Residencial ), arruamentos, aquisição de algumas viaturas, aquisição de mobiliário, providências para transferência das crianças para as escolas, etc…
Quanto ao pessoal, se deu um fato interessante.
Ninguém queria sair de Belém para Manaus, muito menos as famílias.
Todos faziam corpo mole e não acreditavam no evento.
Então o Gen Rodrigo Otávio colocou no Boletim Interno, que dali a 3 meses estaria despachando no novo QG em Manaus.
Afixou no seletex ( quadro de avisos ) a data e a contagem regressiva.
Passado um mês, dois meses e nada.
Ninguém se mexia.
Faltando dez dias, começaram a ver que o evento era para valer.
Começou o “corre corre”, primeiro um, depois outro, mais outro e depois todos.
Várias providências tais como, currículos escolares das crianças, bancos, malas, empacotamento das demais roupas, preparação dos móveis, venda ou providências para embarcar os carros em navios com destino para Manaus etc.
Dois dias antes começou a ponte aérea, sem parar, dos aviões da FAB.
Uma loucura.
Um navio no porto esperando as famílias.
Os militares nos aviões.
Nem a mudança para Brasília fora assim.
No dia marcada, o Gen Rodrigo Otávio estava despachando em seu Gabinete no Novo QG.
Recepcionistas, já preparados e instruídos, cuidavam das famílias.
Tudo fora exaustivamente planejado.
Árdua é a missão de defender e desenvolver a Amazônia, porém, muito mais difícil, foi a de nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la.
Minha Transferência para Manaus
Em 1970, após terminar o Curso Básico de Paraquedista ( PQD 21.433 ) e estágios, fiz o Curso de Mestre de Salto.
No fim do mesmo, se fazia um “tour” por diversas Zonas de Lançamento (ZL), não só para adestrar os instruendos, como também avaliar as ZLs.
Uma desta foi a ZL de Flores em Manaus.
O Comando Militar da Amazônia tinha acabado de ser transferido, por força e influência do Gen Ex Rodrigo Otávio, de Belém (PA) para Manaus (AM).
Em lá chegando, foi criada a 12ª Região Militar e, subordinada a ela, a 12ª Companhia de Material Bélico.
Esta era Comandada pelo Major Haroldo Azevedo da Rosa.
Não tinha nem outro Oficial nem Soldados.
Ao saber de minha passagem por Manaus, correu e entrou em contato comigo, me convidando para ser transferido para lá.
Aceitei de imediato, sem sequer poder entrar em contato com minha querida esposa Tania.
Ao chegar ao Rio do “tour”, já estava transferido.
Como tudo para a Amazônia se realizava rapidamente!!
O problema de falta de Soldados e Cabos Especializados, também, foi resolvido rapidamente.
Transferiram-se os mesmos do Nordeste, engajando-os.
Assim, que lá cheguei, assumi as funções de Sub Cmt, S1, S2, S3, S4, Almoxarife, Aprovisionador, Fiscal, Comandante de todos os Pelotões, Diretor dos Núcleos do DRCL 12 ( Depósito Regional de Combustível e Lubrificantes ), e do Núcleo do DRAM 12 ( Depósito Regional de Armamento e Munições ).
Pudera, eu era o único Oficial de Material Bélico na Região.
E a Companhia tinha, agora, dois Oficiais: o Comandante e eu.
Manaus era uma cidade extraordinária e deslumbrante.
Já passara por altos e baixos e agora estava se soerguendo graças à Zona Franca.
Na direção da Ponta Negra, vários aquartelamentos estavam sendo construídos.
A cidade, que antes só possuía três postos de combustíveis operados somente por mulheres, começava a crescer.
Era uma época maravilhosa.
Você não era somente mais um; era alguém que estava ajudando.
Sem você, qualquer realização que levasse ao progresso, demoraria um tempo a mais.
Você não era parte de uma comunidade aonde um vizinho de porta num edifício mal lhe conhece.
Você pertencia a uma comunidade aonde todos se conheciam, se davam, dialogavam, se solidarizavam e se ajudavam.
Quanto às mulheres em Manaus, vale a pena registrar fato caído no esquecimento da história.
Até pouco tempo atrás, Manaus não tinha muitas oportunidades de emprego, então, os homens desciam para o Sul e as mulheres ficavam.
Resultado é que Manaus tinha três mulheres para cada homem.
As mulheres assumiam diversas funções que no Sul ainda não eram comuns.
Elas se emancipavam.
Devido a isto, quando se casavam, não aceitavam ficar sob o julgo de um marido machista.
Daí a grande quantidade de desquites e elas se comportarem desse modo mais livre e liberal.
Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – AMAN – CPEAEX — Turma 1967 – Material Bélico