A Apresentação.
Por Iberê Mariano da Silva.
Nós, os sete Aspirantes que fomos classificados no Batalhão de Manutenção da Divisão Blindada, decidimos nos apresentar juntos.
Adentramos na Unidade e fomos conduzidos para uma sala, para depois sermos levados à presença do Comandante, o Cel Roberto Moura.
Nesta sala havia um Sargento sentado com os pés em cima da mesa, coturnos abertos e gandola ( como era chamada a camisa da farda ) desabotoada.
Olhamos aquela figura e estranhamos.
Era inadmissível aquilo para nós que tínhamos acabado de sair da AMAN.
O, agora, Aspirante Zimmer, um colega 4 por 4, mandou que o Sargento levantar e se arrumasse.
O Sargento, em vez disso, começou a debochar dele.
O Zimmer avançou em direção a ele, levantou-o pela gola e ia dar um bofete para que o Sargento voltasse à razão ( exatamente como nos tinha sido ensinado nas aulas de psicologia ), quando de todos os cantos apareceram os demais Tenentes de Mat Bel da Unidade.
Era um trote.
Mas foi o último.
O Sargento, não era Sargento, era o Tenente Dourado.
O Tenente Dourado era um tremendo gozador, engraçado e bom companheiro.
Ele, por ocasião de uma Inspeção de Comando, foi inquerido por estar com o cabelo grande, pelo CHEM da DB, e se isto era um complexo.
O Dourado, sem perder tempo, respondeu: – Sim Senhor, eu tenho um “cocuruto” aqui atrás ( e colocando a mão na cabeça ) e só o cabelo disfarça.
O CHEM nada falou e foi adiante.
Nós, tivemos que conter o riso.
O Ten Dourado foi designado como Chefe da Seção de Retifica dos Motores do Carro de Combate M 41.
Lá entre retirar e recolocar o motor retificado no carro levava-se 15 dias.
O Ten Dourado chegou na Seção, sem falar com ninguém, pegou os manuais, e drenou e desmontou o motor, trocou as camisas, os casquilhos, os pistões com seus anéis, ajustou tudo após uma verificação total em cinco dias.
Depois, reuniu os Praças da Seção, que ficaram o tempo todo o observando e falou: – Eu sozinho fiz todo trabalho em cinco dias.
Vocês, a partir de agora, têm 3 dias.
Se fizerem em menos tempo, o resto podem ir para casa.
Os motores passaram a estar pronto em dois dias, dois dias e meio.
O Btl foi uma tremenda escola para nós.
Eu, por exemplo, designado para Comandar o Pelotão de Manutenção da 2^ Companhia, ao chegar, fazendo uma inspeção nas nossas 10 viaturas 2 1/2 GMC, falei para o Chefe dos Mecânicos, o 1º Sgt Aragão, que era uma vergonha aquelas viaturas estarem sujas daquele jeito.
Disse-lhe que mandasse lavar todas viaturas imediatamente.
Ele começou a falar: – Mas Aspirante… Eu interrompi e disse: – Não tem mas, mas.
É uma vergonha!
Fui assistir a lavagem.
Resultado foi que tirada a lama dos tanques eles começaram a vazar que nem peneiras.
A direção deu uma folga de quase meia volta do volante etc.
Em suma era a crosta de lama que segurava tudo.
É claro, passamos a reparar e trocar tudo.
Porém, aprendi minha lição, de passar a ouvir a experiência dos mais velhos, que sempre tem algo mais para nos ensinar.
Levei em conta isto para o resto da minha vida militar.
Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – MSc – AMAN – CPEAEX — Turma 1967 – Material Bélico.