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Lembrança 30

Parque Regional de Manutenção da 1ª Região Militar
Por Iberê Mariano da Silva (▪)
    2ª  parte
Organização do Pq R Mnt/1 para o Recebimento do Material da Força de Paz de Angola.
 
 
1- Introdução

Para o recebimento de todo material da Força de Paz do Exército Brasileiro em Angola, o PqRMnt/1 organizou-se em equipe multidisciplinares, em coordenação com o ECT; BEsE; EsIE; 1° BG; 1ª Cia PE/GuVM; 1ºBLog; 1º RCC; 3º RCC; IBEx; HGuVM; HCE; 14° D Sup; BEsCom; Fuzileiros Navais; CRME; Cia Cmd 1ª RM; 1° BPE e o REsC, bem como com o Escalão Logístico da 1ª RM.

As equipes participaram diuturnamente desde o recebimento do material no Porto do Rio de Janeiro, na formação dos comboios, no deslocamento pela Av. Brasil, na descontaminação ao chegar no  Pq R Mnt/1, bem como na descarga e estacionamento em áreas predefinidas.

Minhas queridas esposa Tania e minha filha Cynthia confeccionaram “coletes leves de tecido TNT” composto de treze conjuntos de cores diferentes para todo efetivo do Parque.

Cada equipe tinha uma cor diferente.

Exemplo: Comando  azul escuro,  coordenação  azul, comunicações  azul claro, saúde   branco, controle de trânsito   laranja, comboio   amarelo, segurança  vermelho, alimentação  verde, avançada de manutenção   preta, recebimento de contêiner    marrom claro, recebimento de viaturas   marrom e preto,  etc.

O Gen Apparício, Comandante da 1ª Região Militar,  convidado, foi ao Parque para ver o  “Apronto Técnico Operacional”.  Todos em forma por equipe, com seus coletes, que quando mencionada a equipe, levantavam o braço direito e bradavam PRONTO. 

O médico da equipe de saúde,  quando mencionada, saiu de forma e ao microfone pregou seus améns.

Ele tinha minha autorização para interromper qualquer operação que julgasse ter perigo de acidente.

O Gen Apparício, que nunca tinha visto isto, só faltou bater palmas.

A partir deste dia, ele passou a chamar o Parque como “meu porta-aviões“.
 
2- Execução

2.1- Equipes    
Foram formadas 13 equipes, com os seguintes objetivos:

a. Equipe Cine foto,
realizar a cobertura cinematográfica para documentação do  evento.

b.  Equipe Avançada de Manutenção e Operação,
recebimento de todo o material da Força de Paz no Porto;
                   Ajudar na Organização do comboio; Atender eventuais necessidades de manutenção, abastecimento e lubrificação.

c. Equipe de comboio,
acompanhar o comboio, em deslocamento na Av. Brasil, do Porto ao Parque visando atender as necessidades de Apoio Mnt eventuais.
      Coordenar-se com o 1° BG, 1° BPE e a 1ª Cia PE/GuVm, para realizar o deslocamento pela Av. Brasil com exclusividade, valendo-se de batedores para segurança e deslocamento livre de trânsito sem intromissão de veículos civis.

d. Equipe de Descontaminação,
realizar a descontaminação de toda o material da Força de Paz em coordenação com    o IBEx.

e.  Equipe de Comunicações,
coordenar e realizar toda a comunicação, via radio Trunk, do Porto do Rio de Janeiro ao Pq R Mnt/1, visando acompanhar permanentemente toda evolução do movimento dos comboios pela Av. Brasil até a chegada ao Parque;
Estar ECD prestar qualquer esclarecimento quanto às atividades e desenvolvimento do recebimento de todo o material da Força de Paz.

f.  Equipe de controle de trânsito,
realizar e coordenar o perfeito controle de trânsito  e o fluxo de movimentação dos comboios, a partir da saída da Av. Brasil, motel Bariloche próximo a EsIE, até a entrada no Parque, onde o comboio tinha área própria  para estacionamento.
Coordenar a saída do comboio, com as viaturas pranchas vazias.

g. Equipe de recebimento de container ,
receber as viaturas pranchas com container;
Separar os contêineres  por diretoria de material;
Estacionar os contêineres por diretorias em áreas específicas;
Coordenar a saída das viaturas pranchas com a equipe de controle de trânsito.

h.   Equipe de recebimento de viaturas,
receber todas as viaturas, dos mais variados tipos, inclusive equipamentos de Engenharia;
Conferir ferramental e recolhê-lo.

Estacionar as respectivas viaturas em áreas pré-definidas.

i.   Equipe de Segurança,
preservar a segurança de todo o material da Força de Paz, nos locais de estacionamento de materiais no Parque
Coordenar a segurança com o Oficial de Dia e pessoal de serviço de guarda à OM.

j.  Equipe de Saúde,
ficar em condições de prestar todo apoio a eventuais acidentados, bem como estar atento e orientar todos os integrantes das equipes para preservarem-se quanto a acidentes e possíveis descuidos.

Coordenar-se com o HGuVM e HCE para eventuais necessidades.

Estar  com uma ambulância ECD.

Fazer  cumprir as estritas normas de segurança.

k.        Coordenação,
coordenar  toda a operação, visando assessorar o Diretor do Parque 1, em contato estreito com os chefes de cada equipe.

l.          Comando
Diretor do Parque Regional de Manutenção 1.
 
m.  Equipe de Alimentação
Fornecer alimentação diuturnamente, em horários preestabelecidos;
Fornecer apoio de cafezinho, biscoito, suco, sanduíches em um trailer, de modo a dar constância em apoio de alimentação aos integrantes dos comboios, do 1o BG, 1o BPE, Fuzileiros Navais e da 1a Cia PE/VM.
 
2.2 –  Diversos:

a. As equipes executaram suas tarefas diuturnamente;

b.  Nos intervalos, entre a saída de um comboio e a chegada de outro comboio, as equipes descansavam em locais pré-estabelecidos. As luzes e holofotes se apagavam se fosse noite, mas de qualquer modo, era dada a ordem para todos irem dormir ;

c.  Com a proximidade de cada comboio, monitorado pelo sistema de comunicações, as equipes eram acionadas por sirene e pelo sistema de som em todo o Parque;

d.  A Av Brasil, por ocasião dos deslocamentos dos comboios, ficava integralmente disponível com exclusividade para o movimento dos comboios do Porto até o Parque. (Isto evitou acidente grave, quando uma carreta carregada de munições virou em “L” ao passar no viaduto da Parada de Lucas);

e. Foram 8 comboios que saíram do porto com comprimentos variando de 5 a 8 km. Saiam do porto a qualquer hora do dia ou da noite, tão logo se formavam; a velocidade ia aumentando gradativamente até chegar a 60 km/h ;

f.  Eu ia numa picape na frente e uma viatura do 1º Btl de Guarda ia atrás da coluna com Sds armados com metralhadoras apontando para trás.

g.  Em um dos comboios,  um batedor de trânsito,  devidamente escoltado por um dos batedores da PE, veio até a mim e disse: _ Por ordem do Governador, eu vim pedir que abra uma pista para o trânsito. 

Eu lhe respondi:_ Por ordem do Presidente da República,  não.
 
2.3 –  Facilidade Desejável,
no  Pq R Mnt/1  existe, desde a sua fundação em 1944, uma linha férrea que era destinada a chegada e saída de materiais diversos no Parque por Trem,  valendo-se de ramal da linha férrea principal de Magalhães Bastos.

Esta solução é algo vantajosa em todos os aspectos, principalmente economia e segurança.  Assim  sendo, é estratégica a sua reativação.
 
 
Seção de Licitação do Parque 1
 

  1. Introdução
    Os recursos da União repassados ao Pq R Mnt/1, em muito ajudaram a cumprir a missão de desmobilizar o material proveniente da Força de Paz de Angola.

Em meados do mês de agosto de 1997, através das diretorias de materiais do Exército; e do Estado Maior do Exército; foram descentralizados créditos nas diversas naturezas de despesas para iniciar a manutenção do material.

A solicitação do planejamento fora feito antes.

O Parque procurou saber a partir deste momento, informações da quantidade e qual material se encontrava em Angola.

Através de uma lista que mais tarde se mostrou errada foi, sem ver o material estudado, estimado à luz de experiência  adquirida ao longo de anos, como estaria o material e o que seria necessário em recursos.

Na verdade, o material era muito mais numeroso e estava muito mais danificado.

Ensinamentos aprendidos, nos mostraram que  ele retorna em muito pior estado do que supúnhamos. (Notar que, desde a Guerra do Paraguai, é a primeira vez que recebeu-se material nosso desmobilizado desta monta)
Serão mostrados os aspectos positivos e negativos para o Pq R Mnt/1, durante o desenrolar da missão de manutenção do material.
 

  1. Desenvolvimento.

A  –  Aspectos Positivos
 
1)      Numerário,
através da liquidação do empenho, o desembolso do numerário era prontamente atendido pela D Cont, possibilitando assim o pagamento do fornecedor em 72 horas.

2)  Nota de Crédito,
no campo “observação das notas de crédito” a  finalidade era bastante abrangente, não sendo muito  específica na sua aplicação e/ou destinação. Isto facilitou uma maior flexibilidade nas aquisições de compra de suprimento necessária à manutenção dos diversos materiais e equipamentos repatriados.

3) Crédito,
os Órgãos Gestores dos respectivos materiais, descentralizaram às notas de movimentação de crédito com oportunidade; isto é; esta UG foi provisionada com aqueles créditos antes da chegada do material.

4)      Fornecedores,
tendo em vista os créditos repassados para essa UG, serem de desembolso imediato do respectivo numerário, possibilitou um recebimento do material adequado em menor tempo.

5)      Classificação Orçamentária, devido ao grande volume de empenhos de despesas realizadas, foi facilitada a identificação das obrigações do programa de trabalho “desmobilização do material de Angola”, com a utilização de fontes de recursos, projetos e subprojetos de rápida identificação em relação aos mais comumente realizados na UG.

6)  Licitações,
com grande volume de recursos descentralizados pelas diretorias, possibilitou a realização de vários processos licitatórios, na modalidade de convite, tomada de preço e leilão.  

7)  Comissão Permanente de Licitação, para diversos tipos de suprimentos necessários à manutenção do material de Angola, foram criadas 8  comissões especiais de licitação, destinados aos diversos órgãos gestores e suas diretorias.

Toda licitação, composta por três oficiais, era assistida pelas outras 7 comissões como testemunha.
 
B – Aspectos Negativos  
Lei 8.666/93
 
Devido à conclusão das requisições de material terem sido volumosas e ocorrerem no final do 4º trimestre, época de chegada do material, e da chegada do material desmobilizado da força de paz Angola, acarretou grande volume de processos licitatórios dificultado o cumprimento dos prazos previstos na lei, e ainda, repercutiu nos últimos estágios de despesa: liquidação e pagamento no final do exercício financeiro (porém todos prazos foram cumpridos à risca).

Outro fator a ser considerado, foi que os primeiros materiais desmontados para serem avaliados e adquirir-se o conhecimento da real extensão das panes, permaneceu muito tempo neste estado. Os técnicos neste período ficaram com pouco a fazer, pois estavam esperando os prazos legais das licitações.

Continua na 3ª parte
 
(*) General-de-brigada Engenheiro Militar Veterano, AMAN Mat Bel 67, Pqdt Militar, Mestre Salto, Guerra na Selva, Graduado (Eng Eletrônica) e Pós-graduado MSc (Nuclear) pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e pela École Nationale Supérieure de l’Aéronautique et l’Espace (França) , diplomado pelo Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército (CPEAEx).