Opções Democráticas
Por Iberê Mariano da Silva.
Quando no CMRJ, Ainda e a Patota da Tijuca.
Tenho sempre o hábito de formar minhas convicções raciocinando com meu próprio cérebro.
Se aceito outras opiniões, o faço procurando ver se por trás, não existe por parte do opinante extremismo, vínculos com ideologias espúrias e o real conhecimento do mesmo sobre os fatos.
Alguns acontecimentos foram por mim vivenciados, outros por mim investigados com auxílio, ou não, de pessoas isentas e confiáveis.
Algumas de minhas apreciações são provenientes de minhas percepções bem refletidas.
O ano era 1963, eu era Oficial Aluno no 3º ano Científico do Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Concomitantemente ao CMRJ, a minha turma do Esquadrão de Cavalaria, cursava o CFR (Curso de Formação de Reservista).
Os Instrutores eram os Tenentes João Luiz e Coelho.
Jamais tivemos, por parte deles, qualquer comentário ou posição política.
Eles não pareciam acompanhar e nem, a meu ver, se interessar pela situação confusa que se encontrava o país.
Ou seja, parecia que confiavam plenamente nas decisões de seus Escalões Superiores.
Ou seria, por acaso, que eles teriam recebido ordem para não preocupar ou influenciar nossas jovens mentes?
Contudo, pouco a pouco, tomando conhecimento do cenário que estava se formando, fazia com que emoções aflorassem.
Uma necessidade, vindo do interior de meu ser, gritava por reações.
Em setembro, a minha patota de rua, se reuniu com várias outras das circunvizinhanças e nos preparamos para expulsar da nossa praça ( a Praça Sáenz Peña na Tijuca ), uns caras que iam fazer comício.
Era, para nós, um absurdo.
Estávamos tendo nosso território invadido.
Não é que tivéssemos qualquer orientação política.
Era que simplesmente, nós tijucanos não admitíamos que pessoas estranhas ousassem vir a ditar regras em nossa região.
( O tijucano é extremamente bairrista sendo um dos pouquíssimos bairros do Rio com gentílico ).
Combinamos e nos preparamos.
Recolhemos tomates podres nas feiras.
Furamos ovos e injetamos agua sanitária nos mesmos, e tampando o furo com cola, o sacudíamos até arrebentar a gema.
Fomos para nossa praça, em hora pré-determinada e lá estava um palanque construído e o local inundado com “santinhos” e inúmeros banners vermelhos da Petrobrás com dizeres e palavras de efeitos.
Os mais fortinhos se posicionaram ao lado dos capangas dos oradores.
No momento em que um palestrante pronunciou que as mudanças pretendidas seriam imediatas, inexoráveis e imutáveis, alguém deu um sinal apitando.
Aí, uma chuva de ovos podres e tomates foram arremessados nos oradores.
Concomitantemente todas as faixas e os banners foram arrancados e os capangas cercados e ameaçados.
Rapidamente todos os invasores de nossa praça se retraíram deixando para trás microfones, amplificadores e alto falantes.
Nunca mais, sequer pensaram em voltar ao nosso santuário.
Vencemos aquele grupelho fantasiado de vermelho.
Quando na Chegada na AMAN, e a Revolução de 64.
Em 1964, no dia 13 de fevereiro, meu aniversário, os aprovados para a Academia Militar das Agulhas Negras ( AMAN ) que estavam no Rio de Janeiro, embarcaram rumo a Resende num trem suburbano especial da Central do Brasil.
Ele foi até o fim da rede aérea elétrica, e aí uma locomotiva a Diesel o tracionou até Rezende.
Lá, desembarcamos na estação e percorremos a pé até o Portão Monumental da AMAN.
Como era emocionante adentrar aquele centro de saber, aonde passaríamos os próximos anos.
Como era majestoso aquele Portão Monumental.
Percorremos mais 800 metros até o prédio principal, e chegamos finalmente aos alojamentos.
Não nos matricularam de cara, pois o Regimento Interno estava mudando e o Curso estava passando de três para quatro anos.
Enquanto a burocracia andava para assinar a lei, ficamos fazendo testes psicotécnicos e nós, duzentos e poucos futuros Cadetes, assistíamos palestras de ambientação, tomávamos conhecimento das NGA (Normas Gerais de Ação) e tínhamos Instrução Militar.
Em 2 de março de 1964, finalmente fomos matriculados.
Na noite entre 31 de março e 1º de abril, numa formatura da 1ª Companhia ( eram 3 ), o Capitão Comandante, meio nervoso, perguntou quem sabia atirar.
Eu, um novato nos ardis militares, e mais dois nos apresentamos.
Estes atiravam em espingarda de ar comprimido.
Já eu, tinha e treinava tiro ao alvo com uma espingarda calibre .22.
Fomos, nos três, conduzidos para o Parque da Infantaria.
Lá estavam os Cadetes do 2º e 3º anos se equipando, recebendo munição e armamento, além de outros preparativos.
Fomos recebidos como “os bichos ( Cadetes Novatos) que “sabem atirar”.
Em consequência, recebemos uma metralhadora Madsen .30.
Me designaram como atirador e os outros dois como municiador e remuniciador.
É claro, que jogaram esta arma para os ”bichos”.
Ela com 9 kg era muito mais pesada que o mosquetão .30 M 954 dos Infantes.
Passamos a ser chamados como os “Bichos” da Madsen”, depois os “Cadetes da Madsen” e finalmente a “Guarnição da Madsen”.
Um Tenente veio e nos explicou todo o funcionamento, inclusive do reparo.
Sem nada falar e sem nada ponderar, como cabe a todos que estão em um ambiente que não dominam, de nada sabíamos o que se passava.
Embarcamos pela manhã em viaturas com destino a uma ponte de três arcos na “reta de Resende” na Rio-São Paulo.
Encontramos lá os Cadetes da arma de Engenharia que estavam minando a ponte.
Cabe aqui ressaltar que a rodovia não era duplicada, e que a ponte passava sobre a ferrovia, Rio Paraíba e toda rede telegráfica e telefônica.
Era um ponto estratégico que se destruída e caída sobre a ferrovia, interromperia toda comunicação Rio-São Paulo.
Lá encontravam-se, também, os Cadetes de Intendência, planejando a alimentação e o remuniciamento, os Cadetes de Artilharia posicionando os obuseiros para bater as posições pré-demarcadas, os Cadetes de Cavalaria em posição definida, os de Material Bélico prontos para atuar, e os de Comunicações se conectando com o Comando da AMAN.
Para mim, construíram um espaldão ( uma espécie de trincheira em “U” em que a Madsen ficava no centro ).
Eu tinha plena visão da ponte.
Foi nesta hora, que tomamos conhecimento da situação.
Éramos revolucionários.
Estávamos contra o governo que queria abandonar a democracia e instalar o regime comunista no Brasil.
Estávamos com o II Exército que marchava em direção ao Rio.
O I Exército, ainda, permanecia ligado ao governo central e se pôs em marcha em direção ao II Exército.
A primeira Unidade que estava no itinerário era o 1º BIB de Barra Mansa que atuava na área em que Volta Redonda estava inclusa.
O Comandante do 1º BIB posicionou suas tropas e seus blindados nas estradas que acessavam a área e colocou na radio ZYP-26, Rádio Cidade do Aço, a mensagem repetida sem parar: _Não entrem em Volta Redonda!
Não estamos do lado de ninguém.
Estamos cumprindo nossa missão que é defender a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), patrimônio Nacional.
A primeira Unidade rebelada, portanto, que o I Exército encontraria seria a AMAN.
Contudo, a AMAN por ser a Célula Mater do Exército evitou o confronto, que levaria choque entre pai e filho, entre filho e pai, entre antigos companheiros e entre ex-conterrâneos por estarem em lados opostos.
A primeira tropa do Rio, que chegou perto da ponte, salvo engano e lembranças, foi o Regimento de Obuses RO-105.
Um Tenente deles e um nosso, acompanhados de soldados com bandeiras brancas na baioneta, se encontraram no meio da ponte.
Após conversarem, se afastaram e a tropa do RO 105 virou as peças apontando para a direção do Rio.
O mesmo aconteceu com cada tropa que chegava.
Entravam em posição contra o Rio.
E, assim, todo I Exército aderiu.
Eu, do meu ponto de observação privilegiado, assisti tudo. Um misto de alivio e felicidade me invadiu ao ver que a contenta estava resolvida.
Felizmente não haveria derramamento de sangue.
A democracia prevaleceu e nós, Cadetes, exultantes voltamos para nossa AMAN vitoriosos.
Meu Pai e a CSN
Meu pai foi um piotário ( aquele que chega antes dos pioneiros ), na construção da Companhia Siderúrgica Nacional.
Ele chegou com mais cinco engenheiros e esposas e foram morar na casa grande da fazenda Crispim, que ficava em frente à Volta Redonda que o Rio Paraíba fazia.
Só seis meses depois é que começaram a chegar os primeiros operários.
Lá ele passou toda sua vida até se aposentar.
Ele adorava aquela companhia.
Me lembro, que pequeno ainda, ele me levava aos sábados para perambular por toda usina.
Ele conversava com todos operários e perguntava como estava a família, que ele, com sua memória prodigiosa, sabia os nomes.
Ele, além de líder, era adorado pelo operariado.
Não raro, ele substituía um operário numa operação, para ensiná-lo uma maneira mais eficiente para realizar o trabalho.
Em 1964, meu pai já era o Diretor Industrial da CSN.
Dentro da Diretoria, ele era o único não comunista.
Em abril, durante a revolução de 64, ele, com um grupo de operários fiéis e devotados, percorria, diuturnamente, a Usina para impedir que uns transloucados esquerdistas explodissem os Altos Fornos e O GRANDE GASÔMETRO.
Todo o resto da Diretoria comuna foi presa e levada para uma ala de Cadetes vazia na AMAN.
Ele foi nomeado, pelo Marechal Castelo Branco, provisoriamente, como Interventor Civil e Militar de Volta Redonda e Barra Mansa.
O Presidente não confiava no Comandante do 1º BIB.
Interessante é explicitar que toda sua formação militar consistia em ter servido, na juventude, num Tiro de Guerra.
Assim, ele recebia do Comando do Movimento Revolucionário diversos documentos reservados.
Eu, Cadete, curioso, num fim de semana, aproveitando que ele bobeara e deixara a porta do escritório aberta, entrei para dar uma olhada nos documentos.
Um dos documentos que li, foi todo o plano feito pelo Grupo dos 11 de Volta Redonda do assassinato dele.
Foi elaborado pelo Diretor Social, colega dele, cuja filha era muito minha amiga.
Como ele era muito metódico e sempre ia ao cinema “9 de Abril” no mesmo horário, o assassinato seria no dia 2 de maio através de uma injeção letal, quando estivesse na fila para comprar o ingresso.
Felizmente, a Revolução de 31 de março deu-se antes.
O Cenário de Março, Abril e Maio de 1964
Quem já viveu um pouco mais, consegue admitir correlações entre diversos fatos e tem a sensação que já viu ou passou por isto ou aquilo.
Você formar opinião baseada em dados de pessoas não plenamente informadas, desconhecedoras da realidade ou de deformadores mal-intencionados seguidores de uma ideologia, é querer ser enganado.
O que houve ou haveria em março, abril e maio de 1964 foram fatos reais e/ou planejamentos diversos, não necessariamente interconectados.
Na época, a confusão era geral.
Seis revoluções estavam em andamento.
Todas sem relacionamento entre si, e com pouco conhecimento uma da outra.
Se não, relembremos um resumo rápido das seis:
A) A marcha do IV Exército em 17 de março.
Esta foi retraída por ordem de um Comando Revolucionário em formação, que avisou que haveria algo de carácter geral no Brasil nas duas próximas semanas;
B) A que foi efetivamente desencadeada em 30/31 de março que ficou conhecida como a “Revolução Democrática de 31 de Março”;
C) A revolução da
Direita partidária que seria em 17-20 abril e contava com Lacerda, que adquirira e recebera armamento externo, Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e outros.
Várias armas e caixas de munições, que ainda seriam distribuídas, estão escondidas por aí em cachês cuja localização foi esquecida pelos ex-integrantes.
Era constituída inclusive por muitos jovens estudantes.
Estando inclusos entre eles meus dois primos Sérgio e Roberto universitários ligados à Direita, que receberam submetralhadoras INA M953 calibre .45 e vários carregadores.
Ela era organizada em grupos estanques centrados e controlados por um Almirante;
D) Os “Irmãozinhos do Norte” jamais admitiriam uma nova Cuba com o porte do Brasil ou um satélite da China.
Mais para o final de abril, haveria um desembarque de tropa americana ( Operação Brother Sam ) no litoral do Espírito Santo.
Ela marcharia em direção a Belo Horizonte e cortaria o Brasil, criando, a princípio, o Brasil do Norte e o Brasil do Sul.
O embaixador americano Abraham Lincoln Gordon tinha pleno conhecimento e confabulava com os presidentes americanos Kennedy e Johnson.
Esta foi suspensa devido sucesso da de 31 março;
E) A revolução sindicalista da Esquerda comunista de 1º de maio, do grupo de Jango (João Goulart); e
F) A revolução de Esquerda socialista de 2 de maio do Brizola (socialismo moreno) e seus vários Grupos dos 11, à qual tive acesso ao ler o planejamento do grupo dos 11 de Volta Redonda, no qual constava, inclusive, o plano do assassinato do meu pai.
A Revolução de 31 de março abortou as que se seguiriam.
Ela desarmou tanto os radicais de Direita como os de Esquerda ( embora só os de Esquerda ), continuem com ações revanchistas e procurem desculpas imbecis e metamorfoses para se justificarem de suas vergonhas.
Passados mais de meio século, eis que a velha senoide da vida política se apresenta.
Agora com maquinações.
Estes estão disfarçados em valores do “politicamente correto” procurando se imiscuir em “Temas Ambientais” e “Direitos Humanos”.
Embora temas válidos, temos novamente os mesmos aproveitadores e corruptos de sempre, socialistas/ comunistas querendo impor um regime desgastado e defasado ao Brasil.
Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – AMAN – CPEAEX — Turma 1967 – Material Bélico