Uma Companhia de Material Bélico em Formação.
Por Iberê Mariano da Silva.
A 12ª Cia Mat Bel foi criada a partir da mudança do CMA para Manaus.
Só tinha o Comandante, o Maj Haroldo Azevedo da Rosa.
Ao término do meu curso de paraquedista fizermos uma viagem por diversos pontos do país homologando ZLs ( Zona de Lançamentos ).
Coincidiu que ao homologar a ZL de Flores em Manaus, a Cia Mat Bel estava sendo criada.
O Maj Haroldo, sabendo que eu era de Material Bélico, rapidamente entrou em contato comigo e me convidou para servir na nova Unidade.
Aceitei.
E como tudo ocorria de maneira expressa na ocasião, quando chegamos da viagem no Rio, eu já estava transferido.
Passamos a ser apenas dois Oficiais na Cia.
Recrutar Praças especialistas, naquela época, em Manaus era impossível.
O Exército, então, transferiu os nossos Praças artífices de Recife.
Formamos, assim, o nosso quadro de pessoal.
Eu, os paparicava.
Surgiu um pequeno problema.
Ao mesmo tempo foi criado a 12ª Cia PE, comandada pelo Cap Rudá e seu Sub Cmt o Ten Inf Paes Barreto da minha turma de AMAN.
Depois do expediente, quando meu pessoal saia para passear, a PE os prendia e de acordo com as normas, eu tinha que enviar uma escolta armada para buscá-los.
Tinha que mandar um ofício dizendo qual punição fora aplicada.
Sempre enviava que fora uma repreensão verbal sem constar em boletim.
Isto estava enchendo o saco, pois meus Cabos e Soldados eram todos engajados e mais velhos.
Não adiantou conversar com o Paes Barreto. Tinha que ter reação!
A viatura Choque da PE era abastecida na minha Cia.
A partir de agora, a viatura ficava esperando umas duas horas, pois como desculpa, o responsável pela bomba estava ainda preso na PE e não tinha chegado ainda.
Não adiantou o primeiro alerta.
Aí foi trazida a viatura Choque, a única que a PE tinha, para consertar o limpador de para-brisas.
Entrou na oficina.
Um Soldado veio a mim e disse que necessitava limpar o carburador, ok disse eu.
Um Cabo me disse que a junta do motor estava vazando.
Eu autorizei.
No dia seguinte me disseram que o trambulador da caixa estava com defeito e pedia para retirar a caixa de mudança para reparo.
E assim foi.
Era a fiação que devia ser inspecionada, era o rolamento do cardã, era o diferencial roncando etc.
O Paes Barreto, depois de três semanas foi lá ver o Choque que estava todo desmontado e nada pode falar, pois tinha cinco mecânicos cuidando dele.
Pronto o Choque, e entregue, tudo recomeçou.
Precisava, portanto, medida mais radical.
Disse para meus Cabos e Soldados que daria uma dispensa por cada peça do uniforme dos PE.
Começou.
Eram capacete, braçal, cassetete, cinto, etc, que chegava todo dia.
Os nossos Cabos e Soldados se uniram a outros de outras Unidades e formavam emboscada para a PE.
Ficavam escondidos em ruas perpendiculares e colocavam uns dois ou três batendo papo como chamarizes, aonde sabiam que o Choque ia passar.
Quando o Choque vinha, parava e os PE desciam para prender, eles corriam.
A PE corria atrás e aí saia uma massa que prendiam os PE e os despojavam dos equipamentos.
Passado uma semana, o Paes Barreto foi me visitar e me falou que eles estavam quase sem equipamentos e que seus comandados estavam com receio de sair em patrulha.
Eu lhe falei que meu pessoal também tinham receios de serem presos.
Então, ele me pediu um armistício.
E disse que a PE não prenderia mais o meu pessoal.
Pediu a devolução dos equipamentos da PE.
Levei-o até uma saleta, plena de equipamento.
Ele ficou assustado com a quantidade.
Levou todo material e nunca mais um Praça da minha Cia foi preso.
Acabou.
Vamos para outro evento com meu pessoal.
Eu era o Chefe do DRCL ( Depósito Regional de Combustível e Lubrificantes ).
Estava com um baita problema.
Os tanques de combustível, se enterrados eram por impulsão do terreno empurrados para fora, se colocados acima do solo a evaporação era dez vezes maior do que era recomendado pelas normas vigentes.
Solicitei aos meus Praças que cavassem um buraco de 2,8 m de profundidade e de 3,5 por 5 m de largura.
Com concreto armado foram forrados as paredes e o fundo.
Foi feito duas bases para assentar um tanque.
Com bombas, o combustível era lançados para as bombas de combustível.
Foi então construído uma laje com passagem para reabastecer o tanque, energia, dreno, saída do combustível, e um alçapão para vistoria.
A bomba de combustível foi instalada sobre a laje.
No final comprei uma televisão de 21 polegadas preto e branco ( TV colorida só chegou ao Brasil em 1972 ) para ser instalada no alojamento das Praças, conforme prometera.
A evaporação foi para o normal.
Duas semanas depois, recebi a visita de dois “Diretores” da REMAN ( Refinaria Manaus ), que pediram para ver a instalação.
Após examinarem muito, me perguntaram se eu venderia a patente.
Eu os informei que trabalhava para o Exército e como tal, todo produto criado pertencia ao Exército.
O que os deixou tristes.
Mas isto é uma técnica de negociação.
Informei-os que havia outro meio.
Eles se empolgaram e quiseram saber como.
Eu lhes disse que era escambo.
Poderia trocar o direito de copiar, por um posto de lavagem e lubrificação, duas bombas de combustível e que eles fizessem a primeira cópia ao lado da minha instalação.
Desta forma, eles poderiam fazer a planta “As Build” sob minha supervisão.
Eles toparam.
Aquilo que meus Soldados levaram 40 dias, eles com máquinas fizeram em três.
Assinadas as papeladas.
Ambas as partes ficaram satisfeitas.
Nós tínhamos em Manaus, expediente de segunda-feira até sábado.
Às quartas-feiras e sábados era meio expediente.
O Maj Haroldo e eu, no sábado fazíamos um almoço visando Relações Públicas.
Fazíamos grandes negócios para a Companhia.
Várias personalidades eram convidadas.
Uma pessoal constante nestes almoços era o Sr Júlio Le Martine, Gerente do Banco Bradesco em Manaus.
Aliás, o Julinho e eu desenvolvemos o processo de um cartão que seria abastecida de montante de dinheiro.
O possuidor, numa loja, ao comprar qualquer coisa, passava para o cartão do comerciante, o valor da compra.
O comerciante, quando desejasse, poderia descarregar o acumulado no seu cartão, para sua conta bancária.
Este cartão era protegido por senha do usuário.
O processo era muito vantajoso.
Tudo muito bem explicado, foi o relatório enviado para a Matriz do Bradesco.
O Julinho foi promovido.
O Julinho se ofereceu para financiar táxis (Fuscão) para meus Praças.
De cara 15 aceitaram e depois mais 12.
Eu era o fiador.
Não havia problema, pois eu era o Tesoureiro e, na época, os pagamento dos praças era em dinheiro vivo pago pelo tesoureiro e pelo furiel.
Deste modo, todos iam batalhar na praça após o expediente e melhorarem suas condições de vida.
Em Manaus havia um grande problema.
Era o trânsito.
Uma baderna cheio de pickups e motos.
Morriam cerca de 4 pessoas por dia.
Um dia, o Governador mandou chamar o Maj Haroldo e a mim, informou-nos de sua vontade de resolver a situação e nos nomeou Interventores Oficiais no trânsito com plenos poderes.
Nós passamos uma semana nos organizando e planejando.
Preparamos provas escritas com 100 perguntas cada, preparamos equipamentos para testes de Reação e Atenção, testes de acuidade visual etc ( a imprensa os apelidou de instrumentos de tortura do Ten Iberê ).
Preparamos pistas de provas de condução para motos e veículos.
Enfim, estávamos prontos para novos exames.
Aí, fizemos uma carteirinha de sub xerifes para todos nossos taxistas.
Eles tinham o poder de ao ver uma barberagem ou uma violação do trânsito, apreenderem a carteira do motorista.
A PM ficou encarregada de apreender a viatura conduzida por motorista sem habilitação.
Como nossos taxista se confundiam com os outros inúmeros da cidade, todo mundo passou a ficar muito alerta.
O Exame para nova carteira era feito uma vez por mês.
O reprovado só podia fazer outro três meses depois.
No início a taxa de aprovação era de 10% e a imprensa caia de pau em cima da gente.
Mas, passado 4 meses, passou-se a ter apenas um ferido grave de 3 em 3 dias.
Aí, a imprensa tinha Deus no céu e o Governador e nós na terra.
Um fato triste a se notar, era que antes, quando morriam 4 por dia, tinha um procedimento desesperado nos hospitais.
Por medicamentos escassos na cidade, o paciente era examinado para ver se tinha chance de viver.
Caso negativo, eles recebiam apenas medicamento para não sentir dor.
Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – AMAN – CPEAEX — Turma 1967 – Material Bélico