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Lembrança 18

Uma Companhia de Material Bélico em Formação,  2ª parte
Por Iberê Mariano da Silva.

Já tínhamos mobiliário para os alojamentos, para o gabinete do comando e pelotões, para as secretarias,  material para o rancho, máquinas de datilografia, pavilhões construídos e duas viaturas. Água e eletricidade foram instaladas. Tudo novinho.

O pessoal começava a se apresentar.

Tudo certinho como deveria ser.

Mas uma coisa essencial faltava.

Eram as máquinas e o ferramental.

Tudo que tínhamos era um cofre de ferramenta de eletricista, que mesmo assim, era de propriedade de um Subtenente  (hoje Alferes) transferido e recém apresentado.

Solicitado, com urgência,  à DFR (Diretoria de Fabricação e Recuperação) e ao DMB (Departamento de Material Bélico),  nos foi informado que a aquisição entraria no orçamento do ano seguinte.

Uma medida urgente se fez mister.

Como deixar toda a Companhia sem produzir?

Aproveitamos, o Major Haroldo e eu, do almoço de relações públicas que começamos a fazer nos sábados para fazermos contatos importantes.

Surtiu efeito.

Tivemos uma primeira encomenda. 

Foi a prefeitura de Manaus que nos encomendou placas de trânsito e direções de bairros.

Tudo por escambo, sem entrar dinheiro, seríamos pagos por ferramental para a fabricação e fornecido o material necessário.  

As chapas, à mais, ficavam para o Quartel para outros serviços. 

Recebemos ferramentas para pintura, corte das chapas, rebitadeiras elétricas etc.

Começamos a produzir.

Logo as encomendas aumentaram.

Carteiras e mesas para as escolas nos rendeu todo ferramental para uma carpintaria serralheria.

Tínhamos todo pessoal superespecializado, o que faltava em Manaus.

A Willys Overland nos doou as ferramentas para manutenção de Jeeps.

A Celetroamazon (Centrais Elétricas do Amazonas) e a REMAN (Refinaria Manaus)  precisavam de fabricação de peças mais pesadas.

Nós tínhamos os artífices.

Não tínhamos as máquinas necessárias.

Por escambo, recebemos as mesmas por serviços prestados.

(Nota. Quando a fabricação era urgente e tomava o tempo  dos profissionais fora da hora de expediente, permitíamos que eles fossem indenizados monetariamente).

Passamos a ter uma senhora oficina com tornos mecânicos,  serras de fitas, fresas, etc.

O GEC (Grupamento de Engenharia de Construção) necessitava de reparos e manutenção de seu material, quando excedia suas capacidades.

Por escambo recebemos cofres de ferramentas completos, da melhor marca, para cada um dos mecânicos.

Ficamos muito bem aparelhados e aptos a fazer a manutenção de tudo para as Unidades apoiadas.

Em um almoço no Sábado, recebemos o diretor do HGeM (Hospital Geral de Manaus) no qual nos comprometemos a dar prioridades na manutenção das ambulâncias.

Soubemos, então,  que ele tinha um Tenente médico em clínica geral, com problemas monetários e alojamento.

Entrevistamos o Tenente e acordamos que o alojaríamos e ele concordava em atender das 17:00 horas às 20:00 horas pacientes.

Passamos, então,  a atender os moradores de uma Vila de Sargentos que ficava próximo da Companhia. O HGeM nos fornecia remédios.

Pegamos material descarregado do HGeM, recuperamos,  pintamos e fizemos um senhor consultório para o Tenente.

Em outro almoço, recebemos o Secretário de Educação e Cultura do Estado e por escambo, recebendo todo material necessário, organizamos cursos de mecânicos de ar condicionado e geladeira, mecânicos de automóveis e eletricistas, bem como pintores.

As aulas eram dadas pelo nosso pessoal fora das horas de expediente e os mesmos eram indenizados pela SEC.

Os alunos ainda reforçaram nossa mão de obra nas aulas práticas.

A ISMAC, uma instrução da DMM (Diretoria de Moto Mecanização),  não era apropriada para a região amazônica. 

Tinha verdadeiros absurdos que chegavam ao cúmulo de serem ridículas.

Exemplo.

Os pneus velhos e baterias inservíveis de cada Unidade apoiada, fossem de Cucuí, Tabatinga, Boa Vista, Rio Branco etc, tinham que ser recolhidas a nós.  

Olhem o custo absurdo deste procedimento!

Já o DFR, talvez, por culpa de nada estar nos fornecendo , nos remeteu uma recauchutadora de pneus elétrica completa.

Não tínhamos nem a potência elétrica demandada para instalá-la.

Mas foi útil.

Fizemos uma reunião com os donos das três recauchutadoras de Manaus.

Mostramos o maquinário para eles.

Chegamos a um acordo.

Eu não instalaria a nossa recauchutadora e concorreria com eles (eles não sabiam que eu não podia), e daria as carcaças de pneus recolhidas das unidades a eles (que estavam nos estorvando).

Eles, em compensação,  a cada três carcaças dadas, a Companhia receberia um pneu recauchutado de volta.

Tínhamos contato com a Petrobras.

Esta, talvez por não saber o que fazer com ela, nos doou uma barcaça oficina.

Foi útil no início quando ainda não tínhamos a nossa oficina funcionando, mas depois se tornou um estorvo. 

A transferimos para a Companhia Especial de Transporte.

Apoiamos também a FUNAI.

Esta por não ter o que trocar por escambo, me ofereceu participar de uma expedição para um primeiro contato com índios na nascente do Rio Orinoco.

Isto já foi mencionado em outo texto.

Em dezembro de 1971, fui designado para fazer o curso de Engenharia Eletrônica  no IME.

O Exército, então, classificou na Companhia o 1º Ten de Infantaria Hilberto, da minha turma da AMAN, que acabara de terminar o curso na EsMB (Escola de Material Bélico).

Com que prazer, tivemos a oportunidade, de no ano seguinte, responder à DFR, quando a mesma nos perguntou o que necessitávamos. 

Com que prazer respondemos: _ NADA!

Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – AMAN – CPEAEX —  Turma 1967 – Material Bélico