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Lembrança 20

A Apresentação. 
Por Iberê Mariano da Silva.

Nós, os sete Aspirantes que fomos classificados no Batalhão de Manutenção da Divisão Blindada, decidimos nos apresentar juntos.

Adentramos na Unidade e fomos conduzidos para uma sala, para depois sermos levados à presença do Comandante, o Cel Roberto Moura.
 
Nesta sala havia um Sargento sentado com os pés em cima da mesa, coturnos abertos e gandola ( como era chamada a camisa da farda ) desabotoada.

Olhamos aquela figura e estranhamos.

Era inadmissível aquilo para nós que tínhamos acabado de sair da AMAN.

O, agora, Aspirante Zimmer, um colega 4 por 4, mandou que o Sargento levantar e se arrumasse.

O Sargento, em vez disso, começou a debochar dele.

O Zimmer avançou em direção a ele, levantou-o pela gola e ia dar um bofete para que o Sargento voltasse à razão  ( exatamente como nos tinha sido ensinado nas aulas de psicologia ), quando de todos os cantos apareceram os demais Tenentes de Mat Bel da Unidade.

Era um trote.

Mas foi o último.

O Sargento, não era Sargento, era o Tenente Dourado.

O Tenente Dourado era um tremendo gozador, engraçado e bom companheiro.

Ele, por ocasião de uma Inspeção de Comando, foi inquerido por estar com o cabelo grande, pelo CHEM da DB, e se isto era um complexo.

O Dourado, sem perder tempo, respondeu: – Sim Senhor, eu tenho um “cocuruto” aqui atrás ( e colocando a mão na cabeça ) e só o cabelo disfarça.

O CHEM nada falou e foi adiante.

Nós, tivemos que conter o riso.
 
O Ten Dourado foi designado como Chefe da Seção de Retifica dos Motores do Carro de Combate M 41.

Lá entre retirar e recolocar o motor retificado no carro levava-se 15 dias.

O Ten Dourado chegou na Seção, sem falar com ninguém, pegou os manuais, e drenou e desmontou o motor, trocou as camisas, os casquilhos, os pistões com seus anéis, ajustou tudo após uma verificação total em cinco dias.

Depois, reuniu os Praças da Seção, que ficaram o tempo todo o observando e falou: – Eu sozinho fiz todo trabalho em cinco dias.

Vocês, a partir de agora, têm 3 dias.

Se fizerem em menos tempo, o resto podem ir para casa.

Os motores passaram a estar pronto em dois dias, dois dias e meio.
 
O Btl foi uma tremenda escola para nós.

Eu, por exemplo, designado para Comandar o Pelotão de Manutenção da 2^ Companhia, ao chegar, fazendo uma inspeção nas nossas 10 viaturas 2 1/2 GMC, falei para o Chefe dos Mecânicos, o 1º Sgt Aragão, que era uma vergonha aquelas viaturas estarem sujas daquele jeito. 

Disse-lhe que mandasse lavar todas viaturas imediatamente.

Ele começou a falar: – Mas Aspirante… Eu interrompi e disse: – Não tem mas, mas.

É uma vergonha!

Fui assistir a lavagem.

Resultado foi que tirada a lama dos tanques eles começaram a vazar que nem peneiras.

A direção deu uma folga de quase meia volta do volante etc.

Em suma era a crosta de lama que segurava tudo.

É claro, passamos a reparar e trocar tudo. 

Porém, aprendi minha lição, de passar a ouvir a experiência dos mais velhos, que sempre tem algo mais para nos ensinar. 

Levei em conta isto para o resto da minha vida militar.

Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – MSc – AMAN – CPEAEX —  Turma 1967 – Material Bélico.