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Lembrança 23

Minhas Lembranças e Participações na Área de Mísseis e Foguetes (parte3)
Por Iberê Mariano da Silva.

Ao término do Curso de Mestrado em Engenharia Nuclear na S7 do IME, fui convidado para servir no IEAvç (Instituto de Estudos Avançados) do CTA (antigo Centro Tecnológico da Aeronáutica).

Já tinha missão designada e PNR (Próprio Nacional Residencial).

Para lá, já tinham ido o Cap QEM Lobo turma 1965 e o Cap QEM Moura Neto 94, da minha turma de AMAN, que terminaram o referido curso em anos anteriores.

Entretanto,  o cientista e Diretor do IPD Gen Argus Fagundes foi contra.

Disse ele, na ocasião, que eu era “reserva intelectual do Exército”.

Fiquei muito honrado, mas “psico da cara”.  
Fui, então, classificado no IPD na seção Roland, que ficava num galpão no Campo de Provas da Marambaia.
     
A única coisa, que tinha de nuclear, era a tinta do Roland a qual dificultava que partículas radioativas grudassem nele.

Outra coisa é que estava no galpão um irradiador de Césio.

Este irradiador tinha sido arrestado, no porto do Rio, de um navio argentino que se dirigia para uma zona de guerra  entre Argentina e Chile (lei internacional).

Eu providenciei a remoção do mesmo.

Na seção, serviam o Cap QEM Carvalho, o Cap Taboada e o Ten Cel Joaquim Américo. 

Além deles tinha um francês Jackmin que estava lá por conta dos fabricantes dos carros lançadores de mísseis Roland.

A missão dele era impedir que fizéssemos um lançamento antes da França  e também não fossem feitas besteiras com os carros, de tal modo que denegrissem o produto Roland.

Nota: Recebemos os primeiros carros.

O 102 TC (tempo claro) , e os 107, 112 e 113  TT (todo tempo).

Eu não gostava do paspalhão francês, é  claro, e que fedia muito.

Certa vez, ele fedia tanto, que o levamos até a praia e o empurramos no mar a título de brincadeira de batismo.

Para provar, para mim mesmo, que ele não passava de um espião asqueroso, eu deixei sobre minha mesa as fotos dos foguetinhos que fizemos na AMAN.

Fotos que não tinham referência de nada por perto que denunciassem o tamanho real dos engenhos.

Escondido, peguei o francês, olhando para um lado e para o outro, fotografando as fotos com uma mini máquina fotográfica.

Enquanto o Carvalho trabalhava na parte mecânica dos carros, eu trabalhava na parte eletrônica.  

Os outros dois, que não eram muito dados ao trabalho, passavam o tempo conversando com o francês, para aprimorarem-se na língua francesa.

Em Outubro de 1980, ao tirar o meu extrato do banco, verifiquei que fora depositado pelo Exército, muito mais dinheiro.

Sexta-feira não tinha expediente no Roland.

Eu costumava ir trabalhar gratuitamente em projeto no Parque da Marinha, pois me incomoda enormemente ficar vagabundeando.

Bem, aproveitando após verificar o dinheiro extra, fui até a tesouraria do IPD na Urca.

Ao adentrar na tesouraria, fui recebido por um Sargento, que me falou :

_ “Pois não,  Major”.

E olhando minhas platinas de Capitão, ele falou:

_ “O Sr. foi promovido em 25 de Agosto.”

Ninguém se deu ao luxo de pelo menos me avisar.
     
O Carvalho e eu, por ter experiência em lançamentos, estávamos preparando toda rotina para o tiro.

O alvo seria um avião alvo da EsACosAAé (Escola de Artilharia de Costa e Anti-Aérea).

No dia do ensaio, estava o avião no ar e um Sargento pilotando.  

Aí chegou o Ten Cel Américo, possuído de chefose, e resolveu dar ordens ríspidas ao Sargento. Mandava o Sargento baixar a altura do avião.

O problema era que o Américo estava seguindo uns urubus pensando ser o avião.

Resultado foi o avião mergulhar no mar.

O Ten Cel ficou com sua cara de bocó e saiu de fininho.

A EsACosAAé não voltou mais. 

Tivemos que improvisar um alvo que consistia de um balão meteorológico içado à 4 km de distância numa altura de 150 metros.

Tenho o vídeo do acerto do míssil no alvo, pois eu, bem abrigado praticamente embaixo do balão, o “videotapei”.   

Antes, porém, teve uma missão de ir na França para assistir um tiro do Roland.

Quem foi ?

Você adivinhou!

Foram designados o Ten Cel Américo e o Taboada.

Foram indicados pelo francês Jackmin, o qual tinha certeza que os dois não trariam nenhum conhecimento novo.

Cansado de tanta imbecilidade, fui até o Diretor do IPD e pedi transferência.

Ele, imediatamente me removeu do Roland e me colocou num novo projeto que estava se formando.

Era o ATTMM (Aquisição de Tecnologia de Teleguiados e Materiais de Mísseis) financiado pela FINEP.

Nem me dei a pachorra de avisar e me despedir do pessoal do Roland.
 
Uma nota triste, sobre o fim dos quatro Rolands tecnologicamente obsolescentes. Um, o 102, ao ter transferido sua torre de tiro para um Shelter, foi tombado e totalmente destruído.  

Um virou alvo.

Outro virou monumento e o último, com um fim menos trágico, foi colocado num museu.

O ATTMM era chefiado pelo Ten Cel Severo, o seu responsável financeiro era o Ten Cel Nogueira e eu passei a ser o encarregado pelo setor científico.

O ar que eu passei a respirar era puro.

O ATTMM contratou diversos engenheiros e técnicos de primeira grandeza.

Um pesquisador que se destacava era o Eng Waldemar, que tempo depois foi transferido  para o IAE do CTA aonde com seu saber e inteligência poderia servir melhor à sua pátria.

Construí um laboratório de pneumática aonde pesquisava atuadores para redirecionar o venture dos foguetes afim de guia-lo.

Projetei e construí um computador analógico (KV 40) e que o Waldemar o tornou mais profissional com o SAM “100”.

Construí uma maquete de foguete num pedestal com suas válvulas atuadoras acionadas por gás frio (CO2),  testar a eletrônica de controle e os girômetro e giroscópios.

Projetamos e construímos o VT PI (Veículo Teste de Pilotagem) baseado num X40.

Várias outras atividades.

Estava ultra realizado.

O genial Ten Cel Japiassu estava confeccionando a tabela de tiro do X20 numa Calculadora de Mesa HP (É o que se dispunha na época) e seu programa levava 24 horas trabalhando.

Ajudei-o reduzindo o tempo para 8 horas.

Ele utilizava, para testes do programa, dados provenientes dos rastreios de tiros do X20 na Marambaia.

No “plotter”, o Japiassu me mostrou que com 10% da trajetória ele já conseguia determinar o ponto de queda do foguete.

Propunha lançar um foguete madrinha com somente 10% da trajetória pretendida, rastreá-lo com um pequeno radar de trajetografia e teria capacidade de uma tabela de tiro instantânea.

Não precisaria de sondagens meteorológicas.  

Memorizei.
    
O Cel Serra, depois de visitarmos a Marinha para conhecer o míssil Exocet, projetou um lançador para o X40 que era semelhante.

Ou seja, era um container que continha na parte de cima os trilhos guia para o foguete.

Memorizei.

O Cel Alfredo e seu desenhista de escol (infelizmente só me lembro seu apelido que era o Bola 7.

Ele fora, por muito tempo, o rei Momo nos carnavais do Rio), projetaram e desenharam um conjunto de viaturas composto de uma viatura comando, uma viatura lançadora que levava os containers com os X40, uma viatura com pequeno radar de trajetografia, uma viatura que carregava ressuprimento de containers com X40 com guindaste para recarregar a viatura lançadora.

Memorizei

O  Ten Cel Amarante trabalhava nas empenas do X40.

De posse de todas informações e desenhos, o Ten Cel Severo, Ten Cel Nogueira e eu, fomos até à Avibras na cidade de São José dos Campos.  

Em troca de ideias com meu amigo Eng João Verdi,  dono da Avibras, mostramos as ideias do basculante do Alegretti, do comboio do Alfredo, do container do Serra, da tabela de tiro instantânea do Japiassu.

Ele anotou tudo.

Seria este o Astro I ?

Ele disse-nos que não tínhamos dinheiro, nem conseguiríamos para tal projeto, pois seria muito dispendioso.

Mal sabíamos que ele já estava em negociações com o Iraque com projeto semelhante (Astro II), nem nada nos foi dito.
     
O projeto e construção  do VT PI continuava, tanto o de gás frio quanto o de gás quente, projetamos o VT GUI a gás quente (Veículo Teste de Guiamento), baseado em X40.

Fazíamos o projeto baseado em um X20 de um VT MI (Veículo Teste de Medidas) que talvez servisse como veículo madrinha.

Fui com o Ten Cel Severo até Los Angeles, na firma Moog, para encomendar a fabricação  das válvulas atuadoras para o foguete a gás quente.

Fomos muito bem recebidos.

Não havia restrição do D.O.D ainda.

Infelizmente não pude assistir o lançamento do VT PI (gás frio) pois fui designado para fazer um curso na França.

Ficou no meu lugar o Maj Stopatto.

Segue a quarta parte

Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – MSc–CPEAEX – AMAN– Turma 1967 – Material Bélico