Missão na França!
Em 1982 fui designado para fazer um curso de pós graduação na França.
Era para fazer um curso na área nuclear.
Em lá chegando, é lógico que não me deixaram.
Matricularam -me num curso de aviônica ( parte da engenharia eletrônica ligada a aviões e satélites ).
Recebi como missão secundária espionar o porquê o infra vermelho que guiavam mísseis anti-aéreos franceses atuavam em um campo mais aberto.
Depois de fazer as cadeiras teóricas na ENSAE, fui trabalhar no CNES ( Centro Nacional de Estudos Espaciais ).
Lá convivi com pesquisadores europeus ( primeiros cidadãos europeus ), mas isto é outra história bem interessante por sinal.
Me designaram para criar um laboratório de antenas para satélites e em seguida criar e medir algumas antenas.
Me deram um técnico, o Lalori, para me auxiliar.
Criei o laboratório e o aparelhei e ficou muito bom.
O Lalori adquiriu, de mim, o sentimento de gozação do brasileiro.
Cada antena criada, dávamos um nome de gozação, que era altamente respeitada pelos Escalões Superiores.
Era surreal.
Kkk.
Tinha a QDP (rabo de porco), tinha a F1 (batizada em homenagem ao piloto brasileiro de fórmula), tinha a F1 I (inclinada) etc.
Isto me fez lembrar de um evento.
Certa vez, um imbecil de um político acompanhado pela direção do CNES, foi visitar o laboratório.
Ele, ao ser apresentado a mim, me perguntou como eu me sentia naquele ambiente sem cobras e canibais.
Eu, nada respondi, simplesmente olhei para o braço dele fixamente e comecei a lamber os beiços.
Lalori, agora o gozador, falou então para irmos rapidamente para o restaurante, pois ele já conhecia o meu olhar e o meu pensamento.
A Direção desconversou e a visita foi encerrada.
Uma vez, o meu Chefe direto, veio a mim e me disse que eu estava em férias por 20 dias.
Eu disse-lhe que quem me daria férias seria a Embaixada.
Ele olhou-me fixo e com voz de gentileza francesa, repetiu que eu estava em férias.
Disse-me que deixasse a chave do laboratório com ele.
Dentro do princípio manda quem pode, obedece quem tem juízo, cumpri as ordens.
Vinte dias depois, peguei uma outra chave, que guardava debaixo de um vaso ( para emergências ou esquecimento )e adentrei pela segunda porta do laboratório.
Lá dentro, estavam quatro franceses mexendo num equipamento.
Sentei na minha mesa, e comecei a trabalhar.
Os quatro, me cumprimentaram reconhecendo implicitamente que o laboratório era meu.
Eu, compreendi de cara, que era aquilo que eu não devia ver, então, para não me denunciar, respondi ao comprimento com um meneio de cabeça e voltei aos meus afazeres.
Em dado momento, um francês se dirigiu a mim e perguntou se eu tinha uma chave de fenda.
Eu respondi, balançando a cabeça, peguei a chave do armário de ferramentas e entreguei-lhe a mesma.
Voltei aos meus afazeres.
Pouco tempo depois, ele veio me pedir um alicate de bico.
Entreguei o mesmo e muito solicito, aproximei-me do trabalho deles, para auxilia-los no que precisassem.
E foi-se passando o tempo e de repente, lá estava eu sentado mexendo no equipamento e os quatro olhando e me instruindo.
Eis, que entra no laboratório o meu Chefe.
Olha, vê o cenário e fala Mr. Da Silva, você está aí?
Nos cinco olhamos para ele e voltamos ao trabalho.
O meu Chefe, sem falar mais nada, e balançando a cabeça foi embora.
O equipamento se tratava da cabeça (holming) de um míssil antiradiação (MAR).
Nota: Chegando ao Brasil, tentei repassar o conhecimento, mas ninguém se interessou.
Vários anos depois, estão tentando fazer um MAR e por falta de dinheiro, agora em 2022, não foi completado.
No início da minha estada no CNES, eu era apresentado como um estagiário, depois passei a ser um estagiário brasileiro, depois um engenheiro estagiário brasileiro, depois um engenheiro brasileiro e finalmente um engenheiro brasileiro que estava lá os auxiliando.
Legal.
Eu consertava tudo.
Desde programas até equipamento deles.
Tinha acesso a tudo.
Já estava lá havia uns 7 meses, e estava numa reunião secreta, projetando o satélite espião francês SPOT ( se não me falha a memória ).
Estava, no momento, opinando para o grupo, o que era melhor para a transmissão da imagem tirada pelo satélite.
Era melhor transmitir linha a linha a medida que fosse fotografada, ou esperar uma foto inteira pronta e transmiti-la.
Eis que toca o telefone.
Um cara foi atendê-lo.
Vira para a sala e fala com uma voz estranha, : _ É da Embaixada Brasileira.
Querem falar com o COMANDANT (Major no Exército Francês), Da Silva.
A reunião foi encerrada.
A embaixada queria me avisar que eu tinha que fazer exame de saúde para fins de promoção.
Arre!
Durante uns dois meses, meu cartão , não abriu mais nenhuma seção.
Como bom cabrito, nada falei ou reclamei.
Até um dia, com um equipamento pifado, me pediram para consertá-lo.
Fiz.
Depois, um cara do local ( um tremendo salão tipo sala limpa aonde tínhamos que ser limpos e usar máscara, touca, polainas e avental ) aonde era montado o satélite, me ligou e perguntou porquê eu não estava mais o visitando.
Respondi que iria no dia seguinte.
Com receio, passei meu cartão e a porta se abriu.
Tinha voltado a confiança.
Outros eventos interessantes aconteceram, mas ficam para depois.
Gen Bda Eng Mil Veterano Iberê Mariano da Silva – Engenheiro Eletrônico e Nuclear – AMAN – CPEAEX — Turma 1967 – Material Bélico