Avançar para o conteúdo

Lembrança 31

Parque Regional de Manutenção da 1ª Região Militar
Por Iberê Mariano da Silva (▪)

3ª parte.

A Organização e os Primeiros dos trabalhos de Manutenção.

As primeiras ordens chegaram retransmitidas pelo Escalão Logístico.

Baseado numa lista fornecida aproximada do material, sem o Parque ter visto o material que ainda estava em Angola, dever-se-ia classificá-los em lotes de material disponível, material indisponível mas com pequenos problemas e material com grandes problemas.

Um trabalho de conjecturas de várias dias, foi entregue, alertando ao Esc Log, que tudo era meramente especulativo, pois não era constituído de qualquer base real.

Planejadores intermediários, neste momento, estavam muito além de aonde poder-se-ia alcançar.

Sem base para informações concretas, embora alertado, muito se gastou de tempo em planejamento de dados, que antes sabidamente  especulativos, pouco a pouco passaram a serem forçados como verdadeiros.

Era uma fase de ansiedades.

Este Fake nos levou a perder muito tempo.

Não passava de burocratas de Brasília tentando aparecer.

Claro, tudo era novo.

Era a primeira vez, que recebíamos de volta de um TO no estrangeiro material brasileiro de monta que para lá tínhamos remetido.

A ultima vez tinha sido por ocasião da Guerra do Paraguai.

A ânsia por dados era grande.

A falta deles era maior ainda.

Por vezes super detalhados, como por exemplo, a solicitação da cubagem e peso de cada item das 3.200 toneladas de material recebido.

Esta solicitação não passava de curiosidade de um burocrata querendo fazer um relatório estatístico.

Daí se faz mister, agora, um relatório o mais completo possível com análise, sem rodeios e desculpas de nossos erros e acertos.

Um dos maiores acertos foi o de concentrar todo material num só local, para sua triagem, conferência, manutenção e recuperação.

Hoje, vê-se a razão do local óbvio, escolhido pelo EME, ter recaído no Parque 1.

Este por estar próximo de um grande porto, no Rio de Janeiro, concentração de várias OMs para ajudar com seus meios, ser sede da CRME (Comissão de Recebimento de Material do Exterior), estar contíguo ao CIG para testes,  ter grande área para estacionamento 300.000 m2, ser uma unidade de manutenção com tradição, construído na 2ª GM para tal, com capacidade de manutenir toda espécie de material.

Uma grande dúvida pairava.

Qual seria o destino do material?

Sairia imediatamente para outra missão?

Ficaria em reserva até outra?

Voltaria para Angola não mais como Força da ONU, mas sim como Força de Paz Brasileira?

Que cor pintar o material? Branco, Azul, Camuflado, Verde Oliva?

Pintar letras EB ou BR?

 Com calma, por vezes rigor, segurança e ponderação o EME foi definindo e dissipando as dúvidas.

O Parque, neste ínterim, resolveu, de modo conservativo entre manutenção ultra simplificada, manutenção normal e manutenção de aprestamento ficar com a última.

Na de aprestamento, embora mais demorada, todo material é sujeito a exame e manutenção profunda. É deste modo, que se garante a maior duração possível em combate.

Se o material tivesse qualquer peça ou empecilho que pudesse vir a causar pane, ela era trocada, ajustada e de novo submetida a rígido controle, com vistas sempre a voltar para o Campo de Batalha com a maior confiabilidade possível.

Foi de grande ajuda, a decisão do Ministro do Exército Gen Ex Zenildo de Lucena, que outras OMs do CML mandassem pessoal de reforço para o Parque.

A ajuda dos diversos Comandantes da Vila Militar foi imprescindível.

O Parque chegou a ter seu efetivo aumentado de 150 homens, que se já especializados, tiveram a oportunidade de voltarem para suas OMs muito mais.

Foi um verdadeiro mutirão.

Diversos Sgts e Cbs se apresentavam no Parque voluntariamente para participarem da Manutenção Geral.

O entusiasmo de poder trabalhar naquilo, que se foi formado, contagiava a todos.

A moral sempre esteve no mais alto ponto possível.

Todos, no íntimo, estavam satisfeitos por estarem honrando realmente seus salários.

Nunca houve alterações nem indisciplina.

O ambiente de trabalho era amistoso, franco e cordial.

Todos colaboravam e não esmoreciam.

Cada Vtr pronta que saía, cada caminhão pleno de material que era levado para o órgão de destino, era olhado por todos com o rabo dos olhos, enquanto se continuava o trabalho, com aquela sensação de orgulho e um sorriso dissimulado nos lábios.

Fez-se doutrina quando pela primeira vez houve Reforço de Pessoal de Manutenção.

Durante  o tempo de manutenção, fomos atingidos pela necessidade de se fazer meio expediente para fins de economia administrativa.

Na verdade, nestes casos e em geral em Parque com Planos de Produção, Metas e Prazos a cumprir, meios expedientes se tornam prejuízo administrativo, além de serem desestimulantes.

O prejuízo, no macro, fica evidenciado ao constatarmos que, para os funcionários civis nada altera e os especialistas interrompem a produção de bens.

A Manutenção na Desmobilização por Tipo de MEM

.

a.  Material de Informática

.

  1. Introdução
    Ao receber o material de informática, verificou-se que os mesmos foram embalados em péssimas condições, o que contribuiu em muito para sua destruição.

Para efeito de manutenção e análise para melhor compreensão das causas dos defeitos, procedeu-se as operações nas seguintes etapas:
Vistoria do material recebido; Limpeza e manutenção do material; Substituição e upgrade do material quando for o caso; Compra de material necessário à manutenção.
.

  1. Operações executadas.

2.1. Vistoria do material recebido.

Ao receber o material, houve a verificação dos itens relacionados com as Guia de Remessa.

Detalhou-se as alterações que poderiam ser notadas em uma inspeção rápida.

Os materiais recebidos tiveram o tratamento como qualquer outro tipo de material.

Concluiu-se que os materiais, tanto do BRAENGR quanto do BRABAT, apresentaram vários problemas, tanto fruto do transporte, quanto do manuseio.
 

2.2. Limpeza e manutenção do material
durante o desenvolvimento do serviço de manutenção, pode-se constatar os seguintes problemas e irregularidades:

1)   CPU (TORRE) – Apresentavam condições de  deterioração por estarem operando em condições adversas para as quais foram desenvolvidas.
 
O uso incorreto dos equipamentos de informática que possuem componentes eletrônicos sensíveis a variações bruscas de tensão, ligados a grupos geradores que não possuíam sistema de estabilização, os levou à queima.

2) MONITORES – foram realizados ajustes de posicionamento de imagem de acordo com especificações técnicas, realizando também a sua limpeza exterior.

3) IMPRESSORAS – Estas divididas em duas classes:

a)    MATRICIAIS – Apresentavam desgastes naturais pelo uso intenso e contínuo.

Observou-se que deviam estar localizadas em locais de altas temperaturas.

b)   JATO DE TINTA – Apresentavam em seus sistemas de impressão cartuchos de tinta que não eram compatíveis com as impressoras.

A utilização de cartuchos de segunda classe ou recarregados, prejudicou o mecanismo de auto limpeza, com a sobrecarga de tinta, sujando, assim, todos os mecanismos.

4) NOTEBOOK – Foram encontrados diversos notebooks com suas telas de cristal líquido danificadas por operarem em locais de altas temperaturas.
 
Alguns dispositivos de armazenamento de dados IBM (Hard Disk) estavam bloqueados por senhas.

Foram construídos para não serem violados.

Isto impossibilitou  sua reutilização.

Todos arquivos e fotos pornográficos foram apagados.

5) ESTABILIZADOR DE VOLTAGEM –  Por operarem com grandes variações de tensões, a maioria teve de ser recuperada. Pelo fato dos mesmos terem se danificado, os demais equipamentos foram ligados diretamente aos geradores sofrendo e se danificando devido às variações de tensão.
.

  1. Total de Material Manutenido
     

NOMENCLATURA

QUANTIDADE

Estabilizador de voltagem
20
Notebook
12
CPU IBM
01
CPU GATEWAY
02
CPU FIVE STAR
08
CPU CEP
01
CPU ACER
01
CPU MTEK
01
CPU AT & T
01
Impressora LX 300
06
Impressora FX 1170
04
Impressora LQ 1070
04
Impressora Canon BJ 220
01
Impressora LX 810
02
Impressora FX 2170
01
Monitor 14” color
12
Mouse
12
Teclado
15

  1. Pendências
    Após terminada a inspeção  de todo o material,  deu-se início à manutenção, a qual não deixou pendências.

Encerrou-se os trabalhos dentro do prazo previsto para o retorno do material à cadeia de suprimento.

b. Material de Intendência

  1. Introdução
    A Seção de Manutenção de Material de Intendência, explana neste relatório, as providências e caminhos percorridos para colocação do material  de intendência da Força de Paz em Angola – UNAVEM III em disponibilidade. Destacam-se os trabalhos de recebimento, triagem, manutenção e remessa do material à cadeia de suprimento. Descreve-se os passos para colocação em estado de disponibilidade, as limitações, as providências administrativas e os motivos dos defeitos apresentados.
  2. Desenvolvimento.

2.1 Recebimento
O material de intendência, oriundo da Missão de Força de Paz em Angola, foi recebido no Parque 1 acondicionado num total  aproximado de 100 (cem) contêineres com equipamentos diversos.

No Parque o material foi recebido administrativamente pelo 14º Depósito de Suprimento, e repassado ao Parque para início da manutenção.

Observou-se que diversos equipamentos encontravam-se quebrados, possivelmente devido ao mal acondicionamento no transporte.

 
 Vários estavam molhados, pois diversos contêineres continham furos o que ocasionou infiltração e posterior alagamento dos materiais. Dentre estes podemos citar como exemplos de materiais encharcados: os coletes a prova de bala, os cobertores, as toalhas, os colchões, etc.

 
 Devido à grande quantidade de material de intendência, estes tiveram que ficar acondicionados nos próprios contêineres fruto da falta de espaço adequado para depositá-los.

 
Perdeu-se um tempo relevante devido à complexidade e diversidade do material, à falta de familiaridade com os equipamentos e a grande quantidade de componentes, como é o caso dos jogos de ferramentas e conjuntos de equipamentos para pedreiro e carpinteiro.
.
 
2.2 Realização da manutenção
com a finalidade de facilitar o trabalho e baseada em uma análise técnica de forma que o mesmo fosse dividido em necessidades de providências, realizou-se a seleção abaixo:

  • Material aguardando suprimento e/ou pintura;
  • Material para manutenção em firmas especializadas; e
  • Material para processo de descarga.

O primeiro grupo foi colocado em disponibilidade de acordo com a realização dos trabalhos de manutenção e pintura.

Utilizou-se suprimento sempre que disponível e quando não, providenciou-se um pedido ao Setor de Aquisição.

Os equipamentos destinados a realização de manutenção em firmas especializadas, foram repassados  de acordo com a disponibilidade de verba para tal fim.

Dentre estes equipamentos, cita-se: os contêineres tipo frigorífico, condicionadores de ar,  freezers e geladeiras.

Equipamentos entraram no processo de descarga quando o alto custo, fruto do estado de deterioração, e a análise dos mesmos levou à conclusão de não serem aproveitáveis ou de recuperação não compensadora.

Em consequência foram confeccionados Pareceres Técnicos e Termos de Exame e Averiguação de Material, os quais foram remetidos ao Escalão Logístico da 1ª Região Militar para homologação.

Pelas conclusões das análises, pode-se dizer que muitos equipamentos entraram no processo de descarga devido a utilização intensa em campanha, pela precária manutenção, ou, ainda,  pela embalagem e cuidados durante o transporte.

Nesta última causa pode-se citar como exemplos os contêineres tipo banheiro, tipo escritório e conjuntos de padaria e lavanderia.

2.3. Os trabalhos da Sec Mnt Mat Int.

Dos trabalhos realizados durante este período de mais de 12 (doze) meses, podemos dizer que devido ao grande vulto de equipamentos, a falta de espaço condizente, e de pessoal qualificado em conhecimento do material de Intendência, contribuíram em grande parte para o não desenvolvimento  com maior presteza do aprontamento do material.

Muitos aparelhos somente necessitavam de limpeza e pintura, onde a mão-de-obra era imprescindível.

Paralelamente aos trabalhos de manutenção do material de intendência, esta seção desenvolveu trabalhos de recuperação de parte dos materiais de outras diretorias, como é caso de Motomecanização e Saúde, onde confeccionou-se forros e toldos para viaturas, forros de gabinete odontológico, macas e padiolas.

Não foi negligenciado, durante todo processo, o apoio às outras Organizações Militares, que procuraram a Seção com o intuito de deixar algum equipamento de sua necessidade em condições de utilização.

  1. Conclusão
    Conclui-se que ao recuperar todo material de Intendência oriundo da Força de Paz em Angola que, o Parque 1 fez o que há de melhor para recuperar o máximo dos materiais.

Já  com o material de Intendência recuperado e entregue ao seu destino e com a procura de numa segunda  triagem  aproveitar mais alguns itens, o Parque 1 ficou com a certeza e confiança de mais uma missão bem sucedida e cumprida com êxito.
 

c. Material de Comunicações.

  1. Acondicionamento dos Materiais
    verificou-se que o material chegou devidamente embalado e protegido em caixotes de madeira.
    .

Entretanto, alguns contêineres apresentaram umidade em seu interior, e por consequência humificado o material.

Foi providenciado prontamente a retirada dos mesmos, para não causar avarias que pudessem afetar seu desempenho operacional.
.

  1. Condições do Material
    Apresentaram os defeitos e danos abaixo relacionados conforme equipamentos, por oficina de manutenção:
    .

OFICINA MANUTENÇÃO – FM

a.   Receptor – Transmissor
Baixo nível de recepção
sem potência,
Instabilidade de frequência.

b.  Amplificador de áudio e fonte de alimentação
baixo nível de áudio,
alto-falante com bobina em curto.

c.  Acopladores
conectores com pinos quebrados,
sistema de controle de frequência inoperante.

d. Antenas
empenadas
quebradas.

e.     Cabos
Conectores com quebrados, fiação defeituosa
.

OFICINA DE MANUTENÇÃO TELEFÔNICO/CIVIL.

a.Telefones
cápsulas receptoras e transmissoras defeituosas,
magnetos em curto, cigarra em curto.

b. Centrais
bornes quebrados,
chaves quebradas
sistema de alarme defeituoso

c. Bobinas
suportes quebrados.

d. Megafones
chave push-button quebrada
microfone aberto.

e. Televisores
seletor quebrado
tubo quebrado.
Fonte de alimentação danificada,
gabinetes quebrados
componentes eletrônicos faltando.

f. Vídeos
cabeçotes defeituosos
mecanismos quebrados, em ajustes
falta de botões.

g. Som
sem nível de potência
sem nível de áudio
alto falantes em curto ou faltando.

h. Câmeras
Alojamento da fita empenado
transcoder danificado,
lente com fungos
.
 
OFICINA DE MANUTENÇÃO SSB/AM

a.   Transceptores
não completa sintonia
sem amplificação
conectores de áudio danificados.

b.   Amplificadores
sem alimentação CC/CA
sem amplificação
Chaves quebradas
Fiação defeituosa.

c. Sintonizado
Não realiza a varredura
Não completa a sintonia

d.  Cabos
Fiação defeituosa
Conectores quebrados

e.   Caixas de bateria
Mola de contato quebradas
.

  1. Conclusão
    Constatou-se com a manutenção realizada no material de comunicações empregado na Missão UNAVEM III, que defeitos semelhantes ocorrem normalmente no dia a dia das Organizações Militares apoiadas pelo Parque 1.

Sendo assim, conclui-se que o material apresentou um bom rendimento operacional durante o seu emprego.

 
Continua na 4ª parte
.
(*) General-de-Brigada Engenheiro Militar Veterano, AMAN Mat Bel 67, Pqdt Militar, Mestre Salto, Guerra na Selva, Graduado (Eng Eletrônica) e Pós-graduado MSc (Nuclear) pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e pela École Nationale Supérieure de l’Aéronautique et l’Espace (França) , diplomado pelo Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército (CPEAEx).